História e cultura – Relatos

Historias que não foram contadas: Chaminé Pellegrini – Pico Menor de Friburgo – julho de 1965

Segunda via de Salinas

Por: Carrozzino

Em 1964 Pellegrini chefiou o levantamento da possibilidade de fazer uma conquista em Salinas, no pico Menor, onde uma linda chaminé o atraia. Durante este ano fomos comprando e juntando o material necessário para a efetivação do evento.

Paralelo a isto, um guia do clube me pediu para guardar umas malas com roupas na minha casa. Motivo: iria sequestrar a sua namorada, menor de idade, pois o pai não concordava com o namoro.

Em dezembro ele cumpriu a promessa, pedindo sigilo aos amigos e fugiu para Salinas onde foi se esconder num abrigo de sape feito pelo dono da região ( Zé Candido) localizado um pouco acima do abrigo do Mascarim.
Com o planejamento pronto, formamos a equipe que iria participar da conquista e marcamos para julho, onde a maioria estaria de férias, o inicio dela.

Naquela época havia um escritor francês em voga. Saint-Exupéry. O homem do Pequeno Príncipe e de outros tantos livros e resolvemos homenageá-lo, colocando o nome dele nesta futura conquista.

Em maio, num movimento de escalada no campo escola de Cascadura, Pellegrini sofreu uma pequena queda e deslocou o ombro, o que o impossibilitou de participar da conquista. Queríamos adiar o evento, mas o Pelle nos obrigou a continuar com o projeto.

O grupo então se reuniu em Salinas com o nosso querido sequestrador e começamos a conquista. Durante a semana praticamente só choveu e a progressão da conquista foi muito pequena o que nos forçou a retornar ao Rio de Janeiro.

Estávamos totalmente desmotivados. Alguns desistiram e outros não poderiam mais acompanhar o grupo. Mais uma vez o Pelle, com sua garra costumeira completou o grupo com outros escaladores e nos forçou a retornar.

Desta vez deu tudo certo. Após uma de luta final, onde ficamos 52 horas na pedra sentindo fome e frio , terminamos a via. Era uma sexta-feira, dia 23 de julho.

A noite deste grande dia, nos reunimos e decidimos trocar o nome da via para Chaminé Pellegrini, a fim de homenagear a pessoa que mais fez para que esta via fosse conquistada.

No sábado Pelle chegou para ver como estavam as coisas e anunciamos a troca de nomes. A emoção tomou conta de todos nós.
Em tempo : Waldemar Guimaraes, o Waldo, guia do CERJ e amigo do Pelle, não gostou de termos mudado o nome da via, pois também como eu, era um fam inveterado deste grande escritor. Conclusão: No ano seguinte conquistou o Diedro Saint-Exupéry com a sua equipe, no Corcovado e nos brindou com uma das mais belas vias do Rio.

Ah. O nosso sequestrador, ao terminar a conquista se mudou para São Paulo, casou e voltou para a família. Hoje depois de muitas e muitas aventuras pelo mundo afora, possui uma pousada em Búzios trabalhando, vivendo e amando sua sequestrada.

Por: Carrozzino